quarta-feira, outubro 03, 2007

Ah pois é...

A meu ver, qualquer portuga que se preze já inventou qualquer coisa. Está codificado nos nossos cromossomas: estamos geneticamente mais predispostos à invenção do que qualquer outra nacionalidade.

No meu caso, as minhas invenções prendem-se mais com a língua.
(vou-vos dar algum tempo para deixar a vossa imaginação a trabalhar)
...

Invenções lexicais. É sobre isso que fala este post.

Contam algumas histórias que, quando ainda era muito puto-xarila, me punha a inventar as letras das músicas que ouvia. E como comecei a contactar com a língua inglesa desde muito cedo, o meu vocabulário anglo-saxónico incluía, em maioria, palavras inventadas por mim (era-me estranho constatar que ninguém mais percebia o que dizia).

Hoje em dia, ainda sou daqueles que se recusa a não cantar uma música só porque não sei a letra. E em vez do "nan nan na na", parece-me mais lógico inventar qualquer coisa que fique ali bem.

Por isso não estranhei quando, enquanto espectador forçado de uma conversa entre dois pensionistas, ouvi: Ah pois é, jacaré!

Ora eu sei que a expressão não é bem assim, mas o senhor quis reforçar a sua revelação com clareza. E não se ficou por aqui...

«'Tá bem azelha!», disse ele a certa altura. E o outro assistia, impávido e sereno, a este chorrilho de insultos. Que não eram insultos, lá está, mas o produto de uma mente imaginativa que não se deixou acabrunhar pelo desconhecimento da totalidade das expressões.

Basta exprimir o sentimento correcto que está por detrás de cada expressão usada, e depois dizer qualquer coisa parecida com o original. Na minha óptica, desde que 80% das palavras correspondam, é suficiente.

Antes da conversa ter terminado, eis que surgiu a melhor de todas. Esta, admito, não estava à espera. Diz o senhor que já tinha sido chamado de "jacaré" e "azelha":

Saí da Caixa, duas horas à espera, e agora tenho os papéis todos para preencher!!

Responde-lhe o outro (o artista):

Ah pois! 'Tavas à espera de quê? É que naquilo, nem o pai anda, nem a barraca abana!


A minha expressão facial foi, caso possam imaginar, a de quem diz: «qué


Em suma, o que é que aprendemos hoje meninos?
1º - inventar sim, mas q.b.;
2º - o desconhecimento da totalidade de uma expressão, não é impeditivo da utilização da mesma;
3º - se é para inventar e chamar "azelha" a alguém, então um pensionista ou um inválido acabam por ser os melhores destinatários.

2 comentários:

sara disse...

LOL!
"nem o pai anda, nem a barraca abana!" é muuuuito bom...
O que achas de "olho por olho, coelho por coelho"? Também não é nada má.

Efémera disse...

Vês?
Fizeste-me rir.
Até os dentes abanaram. Ok, esquece isto. A visão de mim desdentada é aterradora.