Para um tipo que, como eu, vive e trabalha fora de Portugal, o Facebook acaba por se tornar a ferramenta de eleição para acompanhar o que se passa com os amigos e com a família. Pasmem-se os que achavam que a resposta era "pombos correio".
Mas com o bom vem o mau, e por cada visita que faço para me inteirar das novidades, gradualmente concluo que muitos posts deveriam manter-se privados. Contudo, escrever um diário é tão 1990!, e a privacidade está sobrevalorizada. É notório que para muita gente não haver feedback a cada parágrafo redigido sabe a pouco. É também certo e sabido que para esta maltinha, a única reacção aceitável tem que ser positiva (ufa!, ainda bem que não há dislikes no Facebook!). Partilhar é humano, e opiniões todos temos uma. E sim!, é super importante que todos vejam e saibam da batalha pessoal do ceguinho ex-toxicodependente que toca piano com os pés e que levou toda a gente às lágrimas na última edição do Ídolos no Vietname.
Saber o que a Célia e o Osvaldo andam a fazer é na boa. Saber o que a Célia e o Osvaldo andam constantemente a fazer, é stalking e deveria dar a origem a uma providência cautelar. Contra eles, claro. Quando sepensa que tem muito para partilhar, eventualmente damo-nos a conhecer mais do que deveríamos. E estatisticamente, é bem provável que nem todas as partilhas tenham relevância. Atrevo-me a dizer (e olha pra mim, todo atrevidote), que algumas possam ser supérfluas e desnecessárias. E contra mim falo, eu que sou um grande fã do ridículo alheio. Já agora, um grande bem-haja para toda a parvoíce cibernética, e para a que mais me intriga: o narcisismo tecnológico.
Mas com o bom vem o mau, e por cada visita que faço para me inteirar das novidades, gradualmente concluo que muitos posts deveriam manter-se privados. Contudo, escrever um diário é tão 1990!, e a privacidade está sobrevalorizada. É notório que para muita gente não haver feedback a cada parágrafo redigido sabe a pouco. É também certo e sabido que para esta maltinha, a única reacção aceitável tem que ser positiva (ufa!, ainda bem que não há dislikes no Facebook!). Partilhar é humano, e opiniões todos temos uma. E sim!, é super importante que todos vejam e saibam da batalha pessoal do ceguinho ex-toxicodependente que toca piano com os pés e que levou toda a gente às lágrimas na última edição do Ídolos no Vietname.
Saber o que a Célia e o Osvaldo andam a fazer é na boa. Saber o que a Célia e o Osvaldo andam constantemente a fazer, é stalking e deveria dar a origem a uma providência cautelar. Contra eles, claro. Quando se
A tecnologia veio para ficar, e eu ainda sou do tempo em que tínhamos de ser selectivos com as fotografias que tirávamos, pois cada rolo tinha 24-36 possibilidades, e metade das fotos tinham o meu dedo à frente. A outra metade ficava queimada pelo Sol. Os gelados que eu não comia só para pagar a revelação! Esse tempo já passou, e hoje em dia o croissant do pequeno-almoço tem direito a 20 fotos antes de se escolher o melhor filtro para, consequentemente, publicarmos nas redes sociais e causarmos inveja alheia. É esse o objectivo, certo?
Fotos de refeições ✓
Pés na praia ✓
Uma nova peça de roupa ✓
Fim de tarde com um copo de cerveja ✓
Concerto da banda favorita ✓ Hmmmm, tão booooom.
Paisagens paradisíacas ✓
Em suma, mais e mais recordações de momentos que só eu (ou um grupo restrito) vivi. Mais é sempre melhor. Hey, já repararam que estou bronzeada? Vejam como eu e os meus amigos somos super cool e nos estamos a marimbar para o resto da sociedade. Agora vejam isso mais 15 vezes.
Porque parar é morrer, e mudar regularmente a foto de perfil é a (única) maneira de repararem em nós, de sermos comentados e relembrados. Como se houvesse uma necessidade contínua em nos anunciarmos ao mundo. Quando na verdade, estamos a desenhar os traços da nossa própria solidão.
Porque parar é morrer, e mudar regularmente a foto de perfil é a (única) maneira de repararem em nós, de sermos comentados e relembrados. Como se houvesse uma necessidade contínua em nos anunciarmos ao mundo. Quando na verdade, estamos a desenhar os traços da nossa própria solidão.
A nossa vida, pelos olhos das outras pessoas. Ser feliz não é a mesma coisa que mostrar aos outros que estou feliz. Papar a tipa da novela da TVI é irrelevante se ninguém souber, certo?
A questão, lá está, não é a foto/opinião: é a publicação da mesma. É a partilha constante de tudo o que acontece com toda a gente.
Seria melhor se a partilha permanecesse constante mas só com amigos próximos/família? Ou se mesmo não sendo selectiva nas pessoas, fosse restrita a momentos importantes?
Não.
Para a Renata é importante que toda a gente saiba que a felicidade não é um destino, é uma viagem. Para o Ivo, isso é irrelevante tendo em atenção que o Verão está aí e ele tem cerca de mais 18 abdominais desde a última vez que os mostrou ao Mundo (ontem). Ela "taga-o" no próximo post. Ele comenta. Ela responde. Ele faz like. Ela smiley-face o like. Ele menciona os abdominais novamente. Ela sugere que a beleza está nos olhos de quem a vê. O Ivo tira uma selfie à barriga e diz-lhe que os olhos também comem. Nós assistimos desconfortavelmente a um bate-boca que, mais do que privado, deveria ser categorizado como irritante para a vista.
Felizmente o Facebook, ciente do avançar dos tempos, criou igualmente ferramentas contra o partilhar excessivo. Com um simples click, podemos escolher ver menos posts de determinada pessoa, deixando o gigante tecnológico determinar o que é ou não relevante.
E se os tempos avançarem correctamente, não faltará muito até haver botões de dislike / don't care, ou até o Facebook fazer um reparo a lembrar os compartilhantes que já é a 4ª foto que publicam em poucos dias do mesmo gato enfadado, ou que têm um ratio de 0.83 likes por post colocado de um pôr-do-Sol na praia com o título "tão booom", ou até mesmo um aviso à circulação do provável uso exagerado de Photoshop nas fotos (que por sinal, diferem significativamente das últimas publicadas):
De qualquer maneira, e até esse dia não chegar, haverá sempre os que julgam terem feito a escolha acertada ao manterem a vida pessoal mais privada. Mesmo que sejam menos interessantes aos olhos do Mundo. Para esses tenho uma palavra: #boring.
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