sexta-feira, março 31, 2017

The British people has spoken

— The British people has spoken —

Esta é a frase proferida por todos os políticos que defendem o Brexit. E é particularmente exacta.

Só os Britânicos puderam votar nestas eleições, o que seria compreensível não fosse pelo facto que se segue: um cidadão Britânico que resida no estrangeiro e nunca tenha vivido no Reino Unido teve mais poder de decisão que um cidadão Europeu que viva, trabalhe e pague impostos no Reino Unido.

BBC Referendum Results - The 48 Percent


A votação do ano passado teve 51.89% (17 410 742) dos eleitores a optarem pelo Brexit, contra 48.11% (16 141 241). Uma diferença de 1 269 501 eleitores que se traduz em apenas 2.47% da população activa (+18) no Reino Unido. Porém, o número de cidadãos Europeus a viver no Reino Unido ronda os 3 milhões. Três milhões que não puderam votar, e cujos direitos e regalias estão agora em suspenso por causa disto. Tivessem votado… bom, é algo que nunca descobriremos.

Falando apenas desta votação, há ainda duas coisas que me irritam sempre que oiço o "The British people has spoken": o facto de um referendo com uma diferença de menos de 4% ter poder vinculativo, e o da população que vai viver com esta decisão (ou seja, dos 18-45) ter votado contra a activação do Artigo 50. Por sinal, a menor taxa de abstenção foi a do grupo de eleitores com mais de 65 anos (17%), que foi igualmente o mesmo grupo etário com mais eleitores a votar (por uma larga margem). E, surpresa das surpresas, foi este grupo que votou em massa a favor do Brexit: 64% vs. 36%.

Ou seja, tomou-se esta semana uma decisão baseada numa votação extremamente disputada, e apoiada por eleitores que 10 anos volvidos, estarão a apoiar o Brexit numa urna.

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