Saber voltar

E por fim estou de volta à terrinha que me viu nascer, após demorada estadia no estrangeiro. Infelizmente não regressei de Mercedes, nem ostento ao pescoço um medalhão em ouro com a Nossa Senhora dos Aflitos incrustada em diamantes. Trago um corte de cabelo diferente (às mãos de uma cabeleireira turca), e admito que o sotaque possa estar arraçado. O andar também mudou, não devido ao Desfile Gay de Amsterdão, mas porque o pé ainda não sarou totalmente da trolitada de Fevereiro. Mas olho agora para os demais portugueses, e sinto-me genuínamente integrado.
Pensando melhor, "genuínamente" é uma palavra muito forte. Sinto-me assim-assim integrado.
Pensando melhor, "assim-assim"...

Como já referi no post demasiadamente lamecho-nostálgico prévio a este - excelsa construção frásica, diga-se de passagem - há uma quantidade enorme de bagagem emocional trazida neste tipo de viagens (poderia recorrer à piadinha fácil, e fazer comparações espirituosas entre os termos "bagagem", e depois referir que esta bagagem não é fiscalizada à chegada aos aeroportos, mas felizmente não irei por aí). Quando se regressa definitivamente à terra-mãe, é preciso saber lidar com isso, e adaptar essas experiências às que deixei aqui, e que sempre estiveram aqui (daí o título deste post). E isso não é fácil.

Ok... se eu estivesse de costas completamente voltadas à Holanda, sem qualquer tipo de memória positiva sobre aquela terra e aquele povo, seria muuuuuito mais fácil. Mas não é o caso. E é a presença das pessoas que me querem bem (ahahahahah, pessoaS... que engraçado), que me ajuda a ultrapassar este jet-lag emocional. É a realidade a bater à porta, e a dizer que quando estive fora também se passaram coisas deste lado, mas que mesmo assim não fui posto de parte. E isso é um factor importante na minha adaptação a esta nova velha realidade.

Uma vitória do Benfica na próxima semana também não calhava nada mal à minha recuperação. Mas deixemos os milagres para quem precisa mesmo deles.