quinta-feira, agosto 05, 2004

Tudo o que sempre quis saber sobre atear fogo a uma mata sem ser apanhado, e nunca teve a coragem de perguntar

No seguimento da célebre obra "Como bater numa mulher sem deixar marcas" (que por acaso levou o seu autor à prisão, onde aí escreveu "1001 maneiras de apanhar o sabonete sem perder a dignidade" - sem sucesso, diga-se), surge esta dissertação pirómana que vem ao encontro de todos os que não conseguem desviar o olhar quando acendem um fósforo. Há por aí quem diga que é crime pegar fogo, e eu até nem desminto, talvez porque não conheça todo o jargão legal que está por trás disso, ou principalmente porque agora não me apetece mas, o que é mais relevante aqui é saber se não se pode considerar estas queimas como um acto estético. Congratulo-me por saber que ainda não tinham visto por esta perspectiva, pois não? A verdade é que a chama é uma coisa linda. E as árvores também não vão ficar ali por muito mais tempo. Mais cedo ou mais tarde alguém irá mictar nelas, ou cortá-las ou pior, fazer aquelas marcas a dizer "Arnaldo Rolando esteve aqui em Dezembro de 1968!". Já não há lá animais suficientes que valham a pena deixá-las em pé (os esquilos estão todos em Monsanto), e quanto ao facto de as árvores serem o pulmão do planeta, isso é tudo farsa. "Ah, e tal, porque o oxigénio vem das árvores!!" Ora, pessoalmente, nunca vi encherem uma botija de mergulho às custas de um pinheiro. Isto para não falar da água oxigenada, que por essa lógica provém do orvalho recolhido em pequenos frascos de 20 ml.
Bem, entrando no processo de se tornar um incendiário de sucesso, tudo depende das suas qualidades de fuga. Por fogo é até fácil, porque não há ninguém a vigiar. Os bombeiros andam ocupados a apagar os outros fogos, e as Forças Armadas não podem fazer muito com 2 submarinos em segunda mão, que é para onde o dinheiro vai. Por isso, desde que tenha à mão uma acendalha, um fósforo (mas dos bons, porque já que é para queimar faça-o em grande, e proteja o mercado lusitano ao usar a marca nacional Quinas!) e um frasco de álcool etílico, para dar o efeito rastilho, muito apreciado em Hollywood. Mas, se quisermos ser arcaicos, tipo Macgyver, o melhor mesmo é equilibrar um caco de vidro num ramo de uma árvore, colocar um pouco de caruma cá em baixo e deixar a Natureza cometer o hara-kiri, isto se a Natureza souber falar japonês. Depois de ver o fogo "nascer", torna-se complicado não ficar hipnotizado pela beleza da chama. É esse impulso que tem que controlar. Monte na sua Vespa, e zarpe dali para fora o mais rapidamente possível, que é para dar tempo a chegar a casa e ainda ver o fogo no Telejornal.
Se quiser crescer como artista, nada melhor como aproveitar o Verão e alistar-se como voluntário na companhia de Bombeiros mais próxima: está sempre próximo dos fogos, pode até atear mais alguns sem ninguém notar, e deixam-no brincar com a sirene.
E aí está... agora é consigo. Não se esqueça que Portugal já não tem assim tanto mato como se desejaria, por isso não se sinta na obrigação de se remeter a territórios lusitanos. O Mundo está aí para ser descoberto. Ah!, e já agora mantenha constante na sua cabeça a lição base de todo o incendiário: "Se ateares fogo quando estiver prestes a chover, a mata não vai arder... idiota!"

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