terça-feira, abril 17, 2012

União Zoófoba


A Tauromaquia é um tema polémico e fracturante em Portugal, pois se de um lado temos um grupo apaixonado por esta actividade (os aficionados), do outro temos um grupo não menos convicto que se opõe a esta tradição (abolicionistas). Até aqui, nenhuma novidade.
A PRÓTOIRO é uma associação com o objectivo de promover e divulgar a Tauromaquia. A União Zoófila é uma associação de ajuda a cães e gatos abandonados.

Este sábado (dia 14 de Abril de 2012), em resposta a um apelo massivo feito pela União Zoófila para que os portugueses contribuíssem com comida para os milhares de animais que estão a seu cargo (e que correm sérios riscos de ficarem sem alimento), a PRÓTOIRO resolveu responder a esse apelo e deslocou-se até lá para doar meia tonelada de ração.

Chegados às instalações da União Zoófila, os dois membros da PRÓTOIRO foram impedidos de descarregar a ração, não só por ir contra as convicções da União Zoófila mas também porque esta seria uma manobra de propaganda. Caso a doação proviesse de fonte anónima, teriam-na aceite.

E chegamos aqui ao busílis da questão... o que fazer? Certamente que esta "oferta" da PRÓTOIRO não é inocente, até porque ocorreu no mesmo dia em que houve uma Marcha pelos Animais com destino à Assembleia da República. Assim sendo, não tenho quaisquer dúvidas que se tratasse de uma acção promocional (poderiam-no tê-lo feito anonimamente), e que a PRÓTOIRO quisesse aproveitar esta oportunidade para se associar positivamente a outras causas que não a sua. Por outro lado, se de facto se quer proteger e salvar animais que passam fome, interessa que a comida seja oferecida por uma associação taurina?

No contexto sócio-económico em que vivemos actualmente, julgo que a União Zoófila deveria ter agido de outra forma. Penso que não comprometeriam as suas convicções se aceitassem esta doação. Agradeceriam aos membros da PRÓTOIRO pela ração, manifestando que tal não seria sinónimo de serem a favor das touradas. A PRÓTOIRO até poderia fazer propaganda com esta acção, mas decerto que a União Zoófila tem mais que capacidade (se aplicam milhares de euros em cartazes e em publicidade) de justificar esta decisão. Até poderiam dizer que foi a única coisa boa que adveio da tauromaquia.


Os cães e os gatos preferem ter o estômago cheio, venha a comida de onde vier. Mas quem trata deles não. Eu não censuraria a União Zoófila se aceitasse a ração, e julgo que poucos me contradirão quando afirmo que em situações de crise, outros valores se levantam. É uma coisa ter ideais, é outra quando esses ideais esbarram naquilo que estamos a defender. Os racistas, os pedófilos, os violadores... a escumalha da sociedade também deve ter animais domésticos. Devemos impedir que estes sejam alimentados só porque os donos são umas bestas?
 
Não aceito que venham dizer que a União Zoófila se manteve fiel aos seus princípios. É uma associação que vive para cuidar dos animais abandonados, e que promove a adopção dos mesmos. Sonegar-lhes comida é não perceber o sofrimento de um animal esfomeado. É não saber dar valor ao que de facto interessa.
 
Escusado será dizer que a PRÓTOIRO conseguiu encontrar, com alguma facilidade até, uma associação que aceitou a ração. A responsável, apesar de ser totalmente contra as touradas, afirmou que a sua sensibilidade não iria impedir os animais de comer. E diga-se de passagem, a PRÓTOIRO nem refere qual o nome dessa associação. Quero dizer com isto que provavelmente não fica bem na fotografia uma associação de apoio a cães e gatos estar ligada a uma associação de apoio às touradas, e a PRÓTOIRO (até agora) teve a dignidade de respeitae essa privacidade.
Infelizmente a minha história com a União Zoófila não é nada positiva. Há uns anos atrás desloquei-me até às instalações de Sete Rios para tratar da adopção de um cão para os meus tios (de Amarante). Estranhei que, a meio da tarde de um dia de semana, as instalações estivessem encerradas.

Do portão da rua consegue-se imediatamente perceber um dos maiores problemas deste "albergue para cães e gatos": o sobrepovoamento. Contra tudo o que representa bem-estar animal, a União Zoófila coloca mais que o número devido de animais por box, excedendo inclusive o bom-senso (visto que por vezes têm o dobro – ou mais – de animais supostos por cada jaula de contenção).

Apesar de as instalações estarem encerradas, tinham voluntários lá dentro. Adolescentes. E enquanto me informavam que, momentaneamente, não se encontrava ali quem tratava das adopções, um dos cães começou a ter um típico ataque de epilepsia. Pedi-lhes para abrirem o portão, informei-os do que fazia na vida. Mesmo assim disseram-me que é normal (‼) para os cães deles terem aqueles ataques, e que alguém tinha ido telefonar ao veterinário. E assim foi: tive que assistir de fora a uns miúdos de 14-15 anos a atirarem água ao focinho do cão, pegarem-lhe ao colo e ainda com espasmos, colocarem-no de novo na box com os outros 30-40 cães.

A minha perplexidade porém, ainda não tinha terminado. Perante tamanha ignorância (não é um insulto, é uma constatação), dei meia-volta e desloquei-me ao carro para me por dali a andar. Coincidentemente, dei de caras então com a pessoa que trata das adopções, que me perguntou ao que vinha. Depois de manifestar a minha admiração por recusarem a minha ajuda, a senhora informou-me que não poderia adoptar um cão. E porquê? Pasmem-se.

A União Zoófila gosta de se certificar que os cães que dá para adopção estão a ser bem tratados. Para tal, foi-me dito que se deslocam até às casas dos donos para fazerem a tal confirmação. Amarante está fora do alcance deles, por isso... chapéu! Ou seja, só se está qualificado para adoptar um cão/gato quem viver nas redondezas de Lisboa. Obviamente que isto aconteceu depois de lhe ter dito que era veterinário e que me responsabilizava, na totalidade, pelo bem-estar daquele animal. Fiquei atónito com o grau de certeza com que me explicava que é mais seguro para o cão viver ali, num ambiente propenso a doenças e stress (sem certeza de nutrição adequada) mas controlado pela União Zoófila, do que arriscar confiar em alguém na adopção de um animal. Pequena nota de rodapé: até o final desta conversa, o tal veterinário ainda não tinha chegado.

Por isso não me surpreende a atitude que tiveram com a PRÓTOIRO. Porque assim sendo, a União Zoófila é uma de duas coisas: ou mentirosa (os animais de facto não precisam de comida e estão em óptimas condições) ou fanática (onde a ideologia que defendem é sobejamente mais importante que os próprios animais).

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