Passeando pelas ruas de Lisboa (e mais concretamente pela Rua Nova do Almada, no Chiado), há sempre a forte probabilidade de presenciar um acontecimento digno de ser contado. Hoje não foi um desses dias. Mas enfim, entre homossexuais aos beijos, e pombos com pontaria afinada (descobri hoje que há pombos com forte tendência homofóbica, e talvez seja por isso que a partir de agora já não os coloco ao mesmo nível que os ciganos), eis que descubro que a Warehouse (uma lojita de esquina) colocou à venda decorações de Natal, entre elas pinheiros artificiais, centros de mesa, e bolas.. muuuitas bolas para todos os gostos e feitios (não vá a amnésia atacar, e levar as pessoas a esquecerem-se que já é 20 de Outubro).
Entrei na loja. Demonstrei interesse pelos artigos que lá figuravam, cheguei mesmo a perguntar o preço de um objecto de metal (talvez um candelabro, talvez um pisa-papéis-de-embrulho), como se alguma vez o fosse comprar. A senhora disse-me amavelmente que era uma oportunidade única comprar agora, pois os descontos de 50% só iriam ser válidos até meados de Novembro. A partir daí, julgo eu, começam a fazer descontos nas serpentinas e bombinhas de mau cheiro.
Retorqui eu, também num tom suave, que ela era doida, que fosse chular o raio-que-a-parta, e (enquanto saía pela porta fora) que nem vivo me apanhava ali outra vez. Senti orgulho na dignidade da minha atitude, e na rectidão moral com que a apresentei ao mesmo tempo que voltava a entrar na loja porque lá tinha deixado dentro o chapéu de chuva. Reconheci em mim o verdadeiro espírito natalício que teima em não emergir na maioria das pessoas a 20 de Outubro.
Sorri, desejei um Bom Natal ao homossexual abençoado pelo pombo, e segui caminho.
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