quinta-feira, julho 19, 2012

Meios para um fim

Hoje decidi ir ao Hospital fazer um exame imagiológico. Já não é a primeira vez que isto me acontece, ou seja, que sei o que preciso fazer (radiografia, ecografia, etc.) para tirar a dúvida se tenho algum problema ou não. Pergunto: se entalar um dedo numa porta e ele ficar muito inchado, é preciso ter que passar por toda uma junta médica para fazer aquilo que toda a gente sabe que preciso de fazer para diagnosticar o estado do dedo? É a premissa para esta história: que seja preciso todo um processo para, no final, se fazer o exame de diagnóstico ÓBVIO ao mais comum dos leigos.

Nos E.U.A. e na Holanda já se pensou nesta situação. Há locais onde se efectuam exames imagiológicos sem requisição médica. A pessoa entra, diz ao que vai, paga, e fazem-lhe um exame com relatório. Não dispensa consulta médica. E julgo que o mesmo podia acontecer cá em Portugal, porque a única desvantagem que aqui vejo é a da sobrexposição de alguns hipocondríacos e da possível falta de interesse de algumas seguradoras que tivessem que comparticipar em alguns desses exames. Benefícios vejo muitos: aliviar o n.º pacientes em hospitais e centros de saúde, mais oportunidades de trabalho para técnicos, mais liberdade de escolha dos pacientes e, acima de tudo, mais qualidade, organização e eficácia que advém naturalmente de um sítio onde só se faz aquilo.


Entrei nas Urgências às 17h35. 20 aérius de taxa moderadora.
Aguardei, e saí do gabinete de triagem às 18h16. Pulseirinha amarela.
Esperei, e fui visto por um médico às 19h42. A tempo do Jornal das 8.

O médico era um senhor alto, de meia idade, proveniente dos PALOP. Fez a anamnese em 2-3 minutos, e mandou-me aguardar na mesma sala de espera ou por uma enfermeira que me chamasse para o exame, ou por alguém que me chamasse pelo altifalante. Não revelou, no entanto, que exame seria nem onde era efectuado. Saí e aguardei. Na sala continuavam as mesmas pessoas que ainda não tinham sido vistas por um médico. E com elas fiquei, e outras que iam aparecendo e desaparecendo, enquanto aguardava novamente. O tempo passava. E às 21h13 veio um auxiliar chamar-me para efectuar o meu exame. Nova sala de espera.



E o que se faz numa sala de espera? Aguarda-se. Desta vez novas caras, novos problemas, novas reclamações. Eu tinha umas quantas, a começar pela fome e a acabar no jogo do Mantorras (pá!) que estava a perder. Sou chamado à sala para fazer o exame às 22h21. Lá dentro, conversa puxa conversa e descubro um veterinário que por lá andava a fazer sabe-se lá o quê. Acabo o exame, e pergunto-lhes se o levo comigo. Respondem-me negativamente, dizendo que segue para o médico. “E se eu o quiser levar comigo?

Pânico na sala. Ninguém sabia responder, até aparecer uma médica (mais nova que eu) que interrompendo o silêncio me avisou que teria que pedir ao médico para que este requeresse a eles (técnicos das TACs) para enviarem um pedido à secção da Radiologia para me gravarem um CD com a TAC, CD esse que me seria entregue por um auxiliar ou levantado na secretaria. Claríssimo. “E não mo podem enviar simplesmente por mail ou para a minha morada, não será mais fácil do que ter que chatear tanta gente?

Aparentemente não funciona assim. Isso é demasiado simples. Mais vale seguir todos os parâmetros atrás referidos. Entretanto o auxiliar revela-me que a secretaria só está aberta das 8h às 20h (para quem está atento, já fechou), mas para não me preocupar que na secção de Radiologia há lá um computador que grava os CDs (basta enviar o pedido pela rede) e está lá sempre alguém para mo entregar. “Muito bem”, afirmo eu enquanto me dirijo à sala de espera inicial para que o médico avalie o resultado da TAC.

Sou chamado às 23h48. O médico agora é loiro de olhos azuis, oriundo dos países do Leste. E não!, não é o resultado miraculoso de um episódio do «Querido mudei o trombil». Lê-me o relatório dos técnicos de imagiologia e manda-me embora. Peço-lhe então que envie o pedido para poder levar os resultados comigo.

Pânico na sala – parte 2 (o regresso). “Em 10 anos que aqui trabalho nunca ouvir tal coisa!”… percebi depois que a sua indignação não era sobre o facto de eu querer os meus exames, mas que ele tivesse que os libertar para eu os levantar. Liga para os técnicos das TACs, dizem-lhe que tenho de levantar o exame amanhã entre as 8h-20h. Uma versão ligeiramente diferente da que me tinham previamente dito. “Mentiram-lhe com quantos dentes terem na boca”. Ora bem Vladimir…

Até aqui eu tinha sido um gajo porreiro. Aguentei a fome, a bexiga cheia, os gemidos dos geriátricos, a dor, a programação das tardes da TVI, os cheiros, a espera interminável sem qualquer informação, as queixas dos outros pacientes, o calor, a miúda estrábica da cadeira oposta que não tirava um dos olhos de mim, e agora tinha que aturar mais isto?


Um pequeno comentário: omiti aqui algumas partes nesta história, porque poderão erradamente dar uma ideia menos justa do meu estado de espírito. Eu explico: as horas passavam-se, e não se faz nada enquanto se espera… assim sendo, pude testemunhar alguns comportamentos menos aceitáveis por parte dos profissionais de saúde que, justificados ou não por cansaço ou impaciência, não deixaram de me causar incredulidade. Desde o jovem médico que se recusou a avisar um paciente idoso (na cortina mesmo à sua frente) que a sua acompanhante tinha que se ausentar por meia hora e para ele não se preocupar/assustar com a sua ausência (“fale antes com uma enfermeira, eu não estou cá para isso”); uma enfermeira que se recusou a dar indicações a um acompanhante estrangeiro porque “já passa das 20h, eu já saí do serviço”; e finalmente o enfermeiro que respondeu a uma doente idosa que se queixava de não haver cadeiras de rodas: “Isto aqui é um hospital, não é um hotel”.

Voltando à história, diz-me o médico lestino para ir falar com eles. Novamente. Ele não quer ter mais nada a ver com aquilo, só me quer pôr dali a andar. Com certeza Yevgeni, podes crer que vai haver дерьмо.

Activei o modo Exterminador, à procura do 1º alvo para despejar horas e horas de frustração. A primeira pessoa de bata que apanhasse nas TACs ia ouvir das boas. Estava lá o veterinário. Alentejano. Amenizei o tom. Expliquei-lhe as incongruências das várias explicações que me foram dando, ora tenho que pedir ao médico, ora tenho que voltar amanhã e levantar na secretaria, ora há um computador que faz isso e levo o CD já hoje, o que iria ser afinal? Ao que ele me responde “Eles aqui não querem é ter o trabalho” (NOTA: o «trabalho», tal como ele me mostrou, é fazer uma simples selecção do meu nome no computador, e clicar no botão que diz «enviar para CD», coisa para demorar 15-20 segundos). “Eu faço isso num instante colega, põe-te lá à frente do guichet na Radiologia que eles depois dão-te o CD passados uns minutos. Se o viesses buscar amanhã ainda tinhas que pagar uma taxa.

Resumindo, ficasse eu satisfeito com as explicações do Aleksei e da Drª Falanges Preguiçosas e seria mais um dia perdido em deslocações, onde teria que pagar uma taxa por um CD de um exame que é meu por direito, porque a falta de eficiência /comunicação/paciência impediram que eu o pudesse levantar no próprio dia do exame.

Saí do hospital à 0h18. Praticamente 7h depois de ter entrado, única e exclusivamente para fazer um exame que já sabia que tinha de fazer. Levava o CD comigo.

Este texto, apesar de crítico, não visa atacar a instituição nem as classes profissionais que trabalham na Saúde. Por norma evito generalizar, e com este relato tento realçar uma história – a minha – e não retratar o que mal se passa na Saúde nacional. Uma coisa fica clara: o mundo só anda para a frente quando há veterinários ao barulho.

7 comentários:

Inês Pais disse...

Sem comentários... raios parta o nosso sistema... não é o Sistema Nacional de Saude, mas TODOS os sistemas...... estamos entregues à bicharada!!!

Inês Pais

MafB disse...

E entrar para a urgência depois de 2 semanas de tosse produtiva,cm uma dor localizada (quase decerto lesão numa costela ou enfisema subcutaneo) dor que não aguentava e o medico auscultar e dizer: isso é uma dor, ponha este spray (PICALM) que passa!
EU: que é dor eu sei,eu é que sinto, e um rx?!
Médico: Nah,nem pensar!

Arnaldo Rolando disse...

Essa do PICALM é formidável...
Vou é começar a falar com os amigos vets que tenham TACs e ecógrafos à mão.

Amarantino disse...

Primaço, tás lixado! Nem no hospital as estrábicas te largam! Se fosse a do Junho... Pa não falar que até achei barato os 20 aérius que pagaste. Falaste com tanta gente, estiveste lá tanto tempo... essa empresa leva barato pelo serviço!
Abraço.

clinica alzahar disse...

Las urgencias en españa son igual de malas! :) saludos desde www.clinicaalzahar.com

Cirujano plastico Cordoba disse...

Un articulo muy interesante gracias!

Vestidos de Fiesta disse...

Lo que hay que ver...