domingo, janeiro 08, 2012

A tradição ainda é o que era

E fez-se luz. A EDP é agora uma empresa em que, por cada 100 € de consumo de electricidade, recebemos uma Galinha Kung Pao com meia-dúzia de bolinhos de arroz recheados.

Com a privatização da maior empresa portuguesa, o Estado obtém um encaixe financeiro irrepetível. Uma quantidade de dinheiro tipo a que o Tio Patinhas tinha. Os chineses puxaram do maço de notas, como que dizendo "Quelemos complal esta melda toda!", e quase que assim foi.

Em termos de timing, um reparo. Passos Coelho anunciou na semana passada que "o grande projecto para 2012 é a democratização da economia", e no entanto não deixa de ser paradoxal tê-lo dito logo após o seu Governo ter vendido a EDP a um Estado que despreza a democracia ao ponto de manter preso um Nobel da Paz.

Mas isto são questões antigas e sem relevo no nosso contexto económico, em que é essencial trazer dinheiro aos cofres, seja de que maneira for.

Para a EDP, esta operação trará mercados, capitalização e refinanciamento. Diminuirá a dívida acumulada, e tirará o espectro de corte no seu "rating". Para Portugal, traz capital. Acho eu. E nem parece haver falta de consenso nacional sobre esta operação. No entanto, as nomeações para os cargos de chefia são uma história completamente diferente.


Eduardo Catroga para presidente do Conselho de Supervisão da EDP, Celeste Cardona, Paulo Teixeira Pinto, Rocha Vieira, Braga de Macedo e Ilídio Pinho para a assembleia geral de acionistas para integrar o conselho geral de supervisão da EDP. Aaaaaah!... é bom ver que, no que diz respeito a tachos, a tradição ainda é o que era. Sempre foi. E sempre será. Isto apesar da extinção das nomeações políticas ("jobs for the boys") ter sido um bastião na campanha de Passos Coelho (tás chéché, pá!, já não te lembras do que disseste há uns meses?!) contra a filosofia do José Sócrates. Disse na altura, a 02-06-2011, que não queria "ser eleito para dar emprego a amigos", e que queria "libertar o Estado e a Sociedade Civil dos poderes partidários". Agora foi a EDP, anteriormente tinha sido a Caixa Geral de Depósitos.

Acresce um ligeiro detalhe: Catroga (o homem de língua afiada) esteve envolvido nas negociações com a troika, que resultaram na privatização da empresa. Parece-me haver aqui um pequeno conflito de interesses, mais não seja ético. Mas admitamos, quem não é fã desta promiscuidade constante entre a política e os negócios?

Para finalizar, um grande abraço ao Zandinga dos tempos modernos: Paulo Futre, Economista do Ano. Não será certamente para verem os jogos do Sporting, mas estou confiante que "semanalmente vai vir charters" da China com 500 ou 600 chineses para verem os candeeiros, a Fonte Luminosa, os postes de alta-tensão...

2 comentários:

sara disse...

é sempre bom vir aqui ler os teus lamirés sobre as actualidades portuguesas. Muito mais informativo do que qualquer jornal online. gracias ;)

gAnDaMaLuKo disse...

Epá, obrigadíssimo. Deixa-me arcar sozinho com a responsabilidade de informar os emigras...